27/10/2025

Prejuízo médio em golpes com Pix sobe 21 em 2025


Fonte: Valor Econômico
Os prejuízos em golpes com o Pix têm aumentado de valor, puxados
principalmente pelas vítimas de maior renda, e está cada vez mais
profissionalizado. O valor médio das perdas cresceu 21% no primeiro semestre
de 2025, ante igual período de 2024, para R$ 2,54 mil, em valores nominais.
Nos casos de pessoas que pertencem às classes A/B - com renda mensal
familiar acima de R$ 9 mil -, o prejuízo médio foi de R$ 10,5 mil, quase 70% a
mais do que em 2024. Ao mesmo tempo, mais da metade dos casos (65%) agora
têm os recursos direcionados para contas de empresas e não de pessoas físicas,
ante 42% no ano passado.
As informações são parte da terceira edição da pesquisa Golpes com Pix,
antecipados com exclusividade ao Valor. O estudo é feito pela empresa de
inteligência contra golpes financeiros Silverguard, a partir de análises de 12,197
mil denúncias de vítimas na Central SOS Golpe. A amostra reproduz as
características da população brasileira por sexo ou gênero e renda.
“Acredita-se que quem é das classes A/B é menos suscetível aos golpes, mas
todos estão sujeitos ao problema. Nesse grupo, a renda é maior e as perdas
também, o que puxa o número geral”, afirma a diretora-executiva (CEO) da
Silverguard e coordenadora da pesquisa, Marcia Netto.
Reitor do Ibmec Rio e especialista em finanças em tecnologia, Samuel Barros
acredita no aumento da sofisticação dos golpes como uma das hipóteses para
explicar a alta dos casos entre as pessoas de renda mais alta:
“Com a possibilidade de uso de áudios e vídeos que parecem mais verdadeiros,
é possível construir golpes mais direcionados, que atingem esse público e geram
valores maiores. Além disso, são muitos os casos também de golpes em market
places [shopping virtuais], com apelo no grupo.”
Um dos principais alertas do estudo, segundo Netto, é o aumento do uso de
contas de pessoas jurídicas: “O crime digital se tornou uma grande indústria.
Uma conta com CNPJ passa certa credibilidade e o consumidor tem mais
dificuldade de diferenciar o que é golpe ou não”, diz.
Além disso, aponta, essa estratégia dificulta os bloqueios de contas e se
confunde com disputas comerciais reais.
A pesquisa também traz informações sobre o uso do Mecanismo Especial de
Devolução (MED), a ferramenta do Banco Central criada no fim de 2021 para
facilitar a devolução de valores no caso de fraudes. O instrumento prevê que
uma pessoa peça os recursos de volta em caso de fraude, processo que é
intermediado pelas instituições financeiras - a do cliente que transferiu o Pix e
a que tem a conta de destino do dinheiro.
O número de solicitações de MED quase triplicou entre 2023 e 2024 e chegou
a 12,42 milhões no ano passado. No primeiro semestre de 2025, atingiu a
rubrica de 7,75 milhões, uma alta de 60% ante igual período de 2024. Essa
tendência de expansão ocorre desde 2022, quando foi de 2,24 milhões. Os
dados foram obtidos pela Silverguard junto à autoridade monetária via Lei de
Acesso à Informação (LAI). A estimativa da empresa é que o número chegue a
16 milhões em 2025.
Se o número de pedidos de MED subiu, a parcela dos que são aceitos pelas
instituições recebedoras da transação recua. O percentual foi de 73% em 2022,
57% em 2023 e 41% em 2024. No primeiro semestre de 2025, caiu para 27%.
Para Marcia Netto, as instituições têm evitado aceitar infrações do MED em
casos que envolvem intermediários de pagamentos desde que o Banco Central
passou a vincular a aceitação à marcação de fraude no Diretório de
Identificadores de Contas Transacionais (DICT) [sistema do BC que armazena
as chaves Pix]: “Isso bloqueia o cliente de novas transações. Uma solução seria
criar um terceiro nível no arranjo do Pix que deixe visível o cliente do cliente,
como ocorre com os boletos. É uma mudança tecnológica complexa e de longo
prazo, mas necessária.”
A estudante universitária Melissa Silva, de 21 anos, perdeu R$ 1,2 mil ao buscar
um empréstimo de R$ 10 mil em uma financeira. A empresa primeiro pediu
uma transferência de R$ 400 por Pix para começar o contrato. Depois, cobrou
R$ 800 para “limpar seu nome”, que estava em um cadastro de devedores, e
aprovar o crédito.
“Fui muito ingênua, mas estava desesperada por um empréstimo”, diz, ao
contar que só percebeu o engano quando a suposta financeira fez novo pedido
de Pix, de R$ 2 mil.
O promotor de Justiça e coordenador de Planejamento Institucional do
Ministério Público de Minas Gerais, Rafael Henrique Martins Fernandes,
reforça que o Pix é apenas um instrumento usado para a prática de golpes.
“O golpe do bilhete premiado, por exemplo, sempre existiu. O Pix é mais um
veículo que o golpe em si, é um facilitador. São golpes com Pix e não de Pix”,
diz ele, que defende aumento dos esforços de prevenção, com novas estratégias
para levar a conscientização aos consumidores, como anúncios patrocinados
nas redes sociais.